De Cacoal, em Rondônia, até Aripuanã, no Mato Grosso, encontra-se o território indígena “Sete de Setembro”, lar do povo indígena Paiter Suruí. Ali, a castanha-do-brasil, fruto de uma árvore típica da floresta Amazônica, sempre esteve presente, se não como fonte de renda, como parte da alimentação. Hoje, com o crescente destaque da castanha no mercado, ela ganhou ainda mais importância para eles.
Em 2016, a Associação Soenama, que reúne as tribos Iratana e Mauíra, conquistou a certificação FSC em manejo florestal e cadeia de custódia para uma área de 91 hectares, onde são produzidos babaçu e castanha in natura. Pouco tempo depois, foi a vez da Associação Metareilá, que representa as aldeias Tikã, Lapetanha, Joaquim e Apoena Meireles, que obtiveram a certificação de quase 500 hectares.
“Os territórios indígenas precisam ser vistos como fornecedores de soluções inovadoras para desafios globais, como as mudanças climáticas e a exploração predatória dos recursos naturais”, diz Daniela Vilela, diretora executiva do FSC Brasil. "Viabilizar o sustento deles por meio do manejo responsável de produtos não madeireiros permite que seu modo de vida, que naturalmente promove a conservação ambiental, seja mantido”, completa.
Aqui no Brasil, onde os territórios indígenas sofrem grande pressão de grileiros, mineradores e madeireiros ilegais, isso torna-se ainda mais importante, reforçando a ligação deles com a terra e permitindo que eles se mantenham ali.
O líder Rubens Naraikoe Suruí acredita ser importante esse reconhecimento do trabalho realizado pela comunidade. “Nós, indígenas, tiramos o nosso sustento da própria floresta e demos um passo muito grande ao conseguir a certificação da nossa castanha”, conta ele. “Queremos que ela seja reconhecida e que possamos vender por um preço justo no mercado nacional e internacional”. Um dos principais objetivos de conquistar o selo era, justamente, valorizar os produtos, mostrando que eles são oriundos de uma fonte responsável e de qualidade.
No caso dos Paiter Suruí, especificamente, a certificação fortaleceu a identidade cultural, aumentou o engajamento do grupo e comprovou a adoção de boas práticas de manejo que protegem e conservam a floresta. Além disso, melhorou a gestão do território e a produção. Em 2019, foram vendidas 25 toneladas de castanha, mas a meta é vender entre 30 e 40 toneladas num futuro próximo.
Fundação Indígena do FSC
Em 2019, nasceu a mais nova unidade da família FSC, a Fundação Indígena. Com caráter operacional e estratégico, a FI funciona como uma ponte para a criação de alianças multisetoriais com foco em soluções criativas e duradouras para a gestão sustentável dos territórios indígenas em todo o mundo.
Entre os diversos serviços ambientais prestados pelas florestas dos povos indígenas para a sociedade, estão a manutenção dos estoques de carbono nos seus territórios, a proteção da biodiversidade, a conservação do solo, a preservação dos ciclos da água e das chuvas e, consequentemente, a continuidade da produtividade agrícola.
Estima-se, por exemplo, que a proteção e a governança efetiva das terras indígenas podem gerar entre 520 e 1.160 bilhões de dólares em benefícios econômicos ao Brasil ao longo de 20 anos. Portanto, promover o manejo florestal responsável nessas áreas não melhora apenas as condições de vida dessas populações, mas contribui para o desenvolvimento econômico, social e ambiental de todo o País.