Fonte: AE News - Por Célia Froufe
A percepção de participantes é que, dada a meta ambiciosa incorporada pelo Brasil na Cop 21, a fonte de matérias-primas que possui e companhias que atuam em vários setores, o País tem tudo para se tornar líder desse mercado, que ainda engatinha entre as economias emergentes.
A intenção do Investor Roadshow for Brazil's New Economy foi ser uma mostra de potenciais investimentos em títulos verdes para a mudança econômica brasileira. O evento, que começou pela manhã e se estendeu até à tarde, contou com a participação de Organizações Não Governamentais (ONGs), representantes do governo e de empresas, além do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
"Por que o Brasil? Como assim por que o Brasil? Trata-se do maior País do mundo a realmente mostrar empenho em relação às discussões climáticas", disse ao Broadcast Sean Kidney, diretor-executivo do Climate Bonds Initiative (CBI), organizador do evento na capital britânica. A CBI é uma ONG que tenta disseminar o mercado de green bonds pelo mundo, em especial, entre os países emergentes. Basicamente, os green bonds são títulos de renda fixa para investimento em projetos ou empresas ambientalmente sustentáveis. Para as empresas, trata-se de uma nova forma de captar recursos.
Os projetos fomentados pela Climate podem englobar infraestrutura, energia renovável, transporte de carbono, energia solar e eólica, entre outros, desde que sejam sustentáveis e promovam melhora das condições climáticas. A avaliação da CBI, que possui a maior parte de seu funding de governos - em especial, do Reino Unido - é a de que grandes empresas já conhecem esse mercado e começam a operar nele, como é o caso da BRF e da Suzano no Brasil.
Apesar de não ter uma meta de novos volumes de comercialização de green bonds, a intenção da ONG é ampliar a oferta de projetos para que as operações não sejam feitas de forma isolada, como é hoje, mas que exista um mercado consistente e líquido para que se aumente o acesso a ele. Participantes do evento, que começou com a abertura oficial da Bolsa de Londres, pela manhã, disseram que Klabin e Fibria estão a um passo de também entrarem nesse mercado. A Klabin participou do roadshow em Londres. Há a expectativa de que, até 2018, o País tenha conseguido captar até US$ 10 bilhões por meio desses títulos.
Corrupção, recessão e economia verde - Kidney argumentou que o momento pelo qual o Brasil passa hoje é realmente complicado, mas é possível haver discussões simultâneas sobre o combate à corrupção, retomada econômica e economia verde. "Se o Brasil precisará sair da recessão, que já saia no caminho certo. O que o País está propondo para si nessa área é fantástico, é muito inteligente", afirmou. Questionado sobre se o projeto brasileiro de sustentabilidade poderá ser visto como um exemplo no futuro, o diretor da CBI disse que já é, principalmente entre os emergentes.
Além do mais, de acordo com o executivo da ONG, apesar dos problemas locais, o Brasil não deixou de ser o maior produtor de soja e de açúcar, entre outras atividades agrícolas que estão - ou podem estar - muito relacionadas com os projetos de sustentabilidade. "A crise não afeta tanto o agribusiness e é por isso que BRF e Suzano já entraram nesse mercado", avaliou.
Chancela
Aline Tristão Bernardes, diretora-executiva do FSC®, uma ONG alemã presente em 85 países, e que no Brasil é comandada por ela, avaliou que, sem a certificação florestal, é impossível para uma empresa da área crescer no País, já que este vem sendo um selo exigido cada vez mais pelos fornecedores e consumidores. O FSC é responsável por dar a chancela de que o produto é social, ambiental e economicamente sustentável. Para isso, os produtos das empresas precisam apresentar anualmente uma série de critérios combinados em cerca de 300 indicadores diferentes.
Com isso, é possível rastrear o produto de uma tora extraída da Amazônia, por exemplo, durante todo o processo de industrialização e por toda a cadeira produtiva. "Com o selo que emitimos, há a certeza de que aquela madeira não veio de desmatamento ou contou com trabalho escravo ou infantil", exemplificou.
O FSC está em negociação para que a CBI use o seu aval para conceder aos projetos ligados à florestas - sejam nativas ou plantadas - a possibilidade de também serem um ponto de investimento. "Há muito mais investidores do que projetos confiáveis nesse mercado", afirmou Aline. "Não somos executores, mas facilitadores de projetos. O que a gente vende é reputação", explicou.
No Brasil, de acordo com dados do FSC, há 7 milhões de hectares certificados, dos quais 5,5 milhões de hectares, de áreas plantadas. "O 1,5 milhão de hectare restante, de áreas nativas, não chega a 1% do tamanho da floresta amazônica. Portanto, há muito espaço para atuação", considerou. Ela disse que voltará a Londres na primavera, quando está previsto ocorrer um evento sobre o mercado de madeira brasileiro.
Pela programação, fizeram parte do evento em Londres representantes do BNDES, Unep Inquiry, Suzano, Ecoagro, CPFL Energia, Suzano e Klabin. Também fizeram apresentações o secretário-executivo do Ministério da Agricultura, Eumar Roberto Novacki; o estrategista-chefe de macroeconomia para a América Latina do Santander, Nicolas Kohn, o diretor de autorização da Superintendência de Seguros Privados (Susep), Flávio Girão Guimarães, e Elizabeth de Carvalhaes, presidente da Ibá.
Números
As emissões de green bonds chegaram a US$ 152 bilhões em todo o mundo em setembro, de acordo com levantamento realizado pelo Bank of America Merrill Lynch (Bofa). A expectativa é a de que, até 2030, esse volume aumente para US$ 700 bilhões. No Brasil, o instrumento de captação para as empresas é visto como uma fonte alternativa aos recursos do BNDES, que também decidiu apoiar os títulos verdes.
Um guia para captação de recursos por meio da emissão desses green bonds foi lançado no Brasil pela Febraban e Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS) com o objetivo de orientar empresas e o setor financeiro sobre como funcionam, quais as vantagens e critérios para emissão desses títulos. O assunto ganha mais força com o comprometimento feito pelo País, no acordo de Paris, de reduzir emissão de gases de efeito estufa, na Cop 21 do ano passado.